quinta-feira, 30 de abril de 2009

Sorriso audível das folhas

Sorriso audível das folhas
Não és mais que a brisa ali
Se eu te olho e tu me olhas,
Quem primeiro é que sorri?
O primeiro a sorrir ri.
Ri e olha de repente
Para fins de não olhar
Para onde nas folhas sente
O som do vento a passar
Tudo é vento e disfarçar.
Mas o olhar, de estar olhando
Onde não olha, voltou
E estamos os dois falando
O que se não conversou
Isto acaba ou começou?

Fernando Pessoa

domingo, 26 de abril de 2009

Chuva

O que é ser feliz?
Só hoje senti as gotas da chuva unirem-se às lágrimas que me correm no rosto. Hoje nem um sorriso me bastaria para acalmar a madrugada fria que há dentro de mim... Afinal o mundo não é como nos sonhos, é um chão que se abre e que me vai transformando em mil pedaços. Onde pára o brilho que não deixa morrer aquilo que somos?
Não tenho forças para seguir a luz do sol, é brilhante demais para mim... Hoje descobri que nunca o conseguirei alcançar. A saudade vai-se apoderando daquilo que resta desta alma perdida e a água da chuva inunda novamente a minha face, tudo é fundo e nada perto. Nem sempre o tempo cura qualquer dor, acalma mas nao cura.
Eu não sei nada do que sou, mas sei tanto do que muda quando estamos sós.
Levanto os olhos do chão e tudo me parece tão longe, sem rumo definido. É tão fácil desistir, e tão difícil mudar os ventos! Agora, vejo a distância que existe entre o sonho e a realidade. O tempo vai voando como aviões de papel e nada muda, não há gestos que me mostrem a outra margem de mim...
Passo a passo vou chegando a lado nenhum.
Afinal o que é ser feliz?

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Refúgio

Trancada neste quarto, iluminada apenas pela vela que se consome, vejo que o mundo afinal não tem tanto brilho e o nada prevalece mais que o tudo... Descalça, caminho neste chão onde muitas lágrimas já cairam. Raiva, ódio, amor e mesmo solidão já passaram por aqui. Saudade e revolta habitam agora nestas quatro paredes, sendo por vezes difícil respirar com elas. Quero gritar e não tenho força para o fazer, o meu choro é abafado pela chuva que cai intensamente lá fora. Está frio e a lua deixou de brilhar por aqui... Hoje não quero sorrir, hoje quero sofrer por mim mesma, não quero pensar em nada, quero ficar só comigo, perder-me apenas no silêncio.
É aqui que tenho os sonhos mais incriveis e onde choro pelo confronto com a realidade.
Tenho saudades do ontem, saudades da felicidade que outrora trazia no bolso. Este casulo começa a ser grande demais para mim, apesar das memórias que aqui tenho guardadas. Olho-me nos olhos e, no mais profundo, vejo uma réstea de esperança de que a utopia da perfeição se torne real. Porém, volto a olhar para a janela e a esperança vai-se.
Tenho medo deste mundo, medo de querer concretizar o impossível, medo de sair deste meu refúgio que tão bem me protege... Hoje nem a vela deixa de derreter.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Antes da Escuridão

"São tantas batalhas, é tão funda a dor
São tantas imagens de abandono e desamores
Há gente caída no chão
Sem ninguém que os abrace, sem ninguém que os levasse
Antes da escuridão
Então desenho o teu corpo em mim
A forma da tua mão em mim
Pudesse ser essa a forma do mundo inteiro
Acordo só para te ver dormir, assim, em paz
São tantos os medos calados por dentro
Estilhaços de guerra sem luar nem vento
Cravados tão fundo no peito
Sem ninguém que os arranque, sem ninguém que estanque
O mal que foi feito
São tantos olhares de espanto vazios
E é tanto escuro e faz tanto frio
Há gente caída no chão
Sem ninguém que os abrasse, sem ninguém que os
levasse
Antes da escuridão
Então desenho o teu corpo em mim
A forma da tua mão em mim
Pudesse ser essa a forma do mundo inteiro
Acordo só para te ver dormir, assim, em paz
Então desenho o teu corpo em mim
A forma da tua mão em mim
Assim, em paz!"


Mafalda Veiga

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Um pouco de céu

O meu coração não tem cor... Cada olhar virado para ele é um pouco mais de... nada! Enfrentando o girar do mundo, vai procurando, um a um, os pigmentos que o fazem brilhar no escuro. Abraços amargos e palavras soltas vai encontrando no caminho, mas ainda assim continua a andar com toda a sua determinação! Farta de ouvir as frases banais, parto em busca dos tons do arco-íris. Não sei o motivo para ir, só sei que não posso ficar! A brisa do mar cheira a magnólia, e eu sinto-me cada vez mais apta para dançar e rodopiar com o vento que vai levando a minha dor. A noite brilha sobre mim e eu descanso num barquinho de papel que flutua no mar do sentimento, onde vou encontrando muitos corações iguais ao meu... Dispo o cansaço e recomeço mais uma vez, sempre com o sorriso que me protege do frio. Eu quero ser tudo, quero percorrer o mundo num segundo, quero beber da fonte das emoções, quero voar para longe deste mundo, para longe destas estrelas que precisam do reflexo do sol para brilhar, quero voar para um lugar que espera por mim... ou então não... quero mudar o mundo, tal como toda a gente faz a sua Primavera!
Agora sou guerra, mas procuro a paz, agora sou deserto, mas procuro o oceano...Sempre tão longe e tão perto!
Esta ânsia de chegar ao céu, sempre cada vez mais forte, faz-me esquecer todas as pedras que me tatuaram e, pintando a alma com todas as cores que já tenho, vou percebendo o encanto da vida... Descubro qualquer coisa a nascer bem no fundo de mim, descubro a força de vencer que faz despertar todos os pigmentos de luz que procuro e que voam como pétalas de rosas ao sabor do vento.
Só hoje deixei de tentar erguer os planos de sempre, bastando-me agora as asas que ganhei para sair deste chão.